26 outubro 2006

País ou Povo?

Quando se fala daquele princípio democrático no qual se diz que “todo poder emana do povo, e em seu nome será exercido”, fica a pergunta: ele deve ser exercido em nome do povo, ou seria para o povo? Talvez fique clara a diferença, se nos lembrarmos que esta citação se encontrava na Constituição Brasileira, conforme a Emenda Constitucional no. 1, de 1969, artigo 1º, parágrafo 1º. Em plena ditadura militar falava-se em poder do povo.

A questão que quero aqui levantar é a dificuldade de avaliar o que seria bom para o povo ou bom para o país. À primeira vista parece a mesma coisa, mas cabe a tentativa de expor um exemplo de divergência: o Bolsa-Família. Talvez exista concordância que esse programa é bom para a economia brasileira. Contudo, economistas de todo Brasil chamam atenção de que o “assistencialismo” pode até fazer crescer momentaneamente a economia, tanto das pessoas beneficiadas como dos lugares em que vivem, mas do ponto de vista geral e a longo prazo traz prejuízos para o país. E para o povo?

Como se pode questionar um programa que pode até ser um pouco prejudicial economicamente para o país, mas faz existir a possibilidade de, para pessoas que nunca tiveram isso, comer pelo menos três vezes por dia? O povo vê a importância que isso tem para todos e os que não precisam vêem o malefício que o país sofre do ponto de vista econômico. Qual, então, deveria ser a principal prioridade de um governante?

Colocarei então essa dicotomia: País ou Povo? Qual a escolha que se deve fazer? Num país desigual como o Brasil vale a reflexão do que seria o crescimento econômico. Quando uma pátria cresce como um todo, claro que crescerá de acordo com a sua desigualdade. Já quando se faz ações para melhorar a vida das pessoas levando em conta suas necessidades, faz-se pelos que precisam, não transformando o Brasil num país cada vez mais desigual.

Então, mais uma vez, qual deve ser a prioridade de um governante? Diminuir em 19% a pobreza em seu país ou fazê-lo crescer mais de 2%? Garantir que mais de 200mil jovens pobres estejam numa faculdade particular sem pagar ou fazer o país crescer mais de 2%? Fazer a desnutrição infantil no semi-árido cair 63% ou fazer o país crescer mais de 2%? Criar 7,5 milhões de novos empregos ou fazer o país crescer mais de 2%? Assentar 305mil famílias do campo, que não tinham com produzir às vezes o seu próprio sustento ou fazer o país crescer mais de 2%? Gerar 125mil novas vagas no ensino superior público ou fazer o país crescer mais de 2%?

E para quem gosta de economia: zerar a dívida com o FMI, economizando US$ 900 milhões no pagamento de juros; diminuir a dívida restante para US$ 161 bilhões; fazer o risco-país cair para apenas 235 pontos, o patamar mais baixo desde que esse índice foi criado; reduzir a taxa de juros para 14,25%; manter inflação controlada, com projeção de 3,84% para 2006; o saldo comercial acumulado alcançar um superávit de US$ 122,7 bilhões; as exportações crescerem 100%, um índice muito acima da média mundial ou fazer o país crescer mais de 2%? Faça sua escolha.