23 dezembro 2006

O Verdadeiro Sentido

Existe uma discussão, certo que só nas proximidades das eleições, sobre o verdadeiro sentido de alguns programas de auxílio dados pelo governo brasileiro. Muitos acham e dizem, outros acham, mas não dizem, que esses são programas assistencialistas e inibidores da vontade pelo esforço e trabalho. É um argumento deles também serem esses programas de ação imediata, mas não vão a fundo no problema e ainda o camuflam. Farei, pois, breve comentário sobre esses argumentos.

“Não basta dar o peixe, tem que ensinar a pescar.” Qual o sentido desse provérbio popular? Está ele querendo dizer: Nunca dê o peixe a quem passa fome, e sim o ensine pescar? Acredito que não. Pode ser então: Não vou dar o peixe, não tenho nada com isso, quem manda não saber pescar? Não acho que tal frase vinda do povo, sempre tão solidário, queira dizer isso. Essa frase deve significar: Ensine o próximo a pescar se ele necessita, mas enquanto ele não aprende, dê o peixe que é muito importante.

Perguntei o verdadeiro sentido desse provérbio para tentar entender por que ele é usado como contrário aos programas de assistência. Lamento que muitos pensem no primeiro significado como o real, pois apesar desses programas serem considerados de ação unicamente imediata, devemos considerar que existem coisas que precisam dessa ação imediata. Uma delas, com certeza, é a fome.

Temo que alguns pensem no segundo significado como certo, pois apesar desse “individualismo” ser um dos nortes do capitalismo, não quero acreditar que o homem ao qual se referiu Rousseau como sendo bom em sua natureza possa pensar algo assim. Tratando então o terceiro significado como certo, podemos acreditar que os programas são peixes dados enquanto os beneficiados não aprendem a pescar.

Quando se fala, por exemplo, em cotas nas universidades públicas, muitos criticam por acharem que a melhor alternativa para a desigualdade, seja ela entre pretos e brancos ou entre pobres e ricos, seria garantir uma escola pública de qualidade. Eu até agora não encontrei ninguém que discorde disso, mas quem disse que as cotas excluem esse investimento nas escolas? E como ficam talvez três gerações que passarão esperando uma melhora concreta no ensino básico público?

O exemplo da Coréia do Sul, que é tão citada por todos como exemplo de “revolução pela educação”, devemos louvar o entendimento, a iniciativa e a concretização do povo coreano por essa verdadeira revolução. Entretanto, deve-se considerar que essa alternativa, como foi na Coréia, dura pelo menos trinta anos para ser bem feita. Devemos dar o peixe enquanto eles não aprendem a pescar ou eles agüentam por trinta anos?

Essas alternativas deviam ser olhadas com carinho, não sendo tratadas como camuflagem, pois elas são muito importantes para manter uma vida digna enquanto não se consegue isso com as próprias mãos, ou com as próprias linha e vara.